1 É PRIMAVERA!
É primavera!
As moscas esvoaçam...
Haverá uma tarde sem calor?
Arrastam-se os dias, longos ...
Orquestras nos parques, 
sinfonias de pernilongos.
Um superatleta, no cooper
uma minimulher no trottoir
A macrofamília seleta num tombo
Flores mais belas
É primavera!velam mais um homem a descansar.
Nas corrutelas o ar parado 
mascara a paz.
A grama aparada, o cabelo cortado...
A Terra rodando, o guarda rondando.
Haverá algo a respirar?
O verao chegando
até que a rotina se esvaia.
Ao menos, um batalhão de minissaias...
2 JUÍZOS FINAIS
A sua alma
não procura mais 
a minh'alma
não perdura nas 
entranhas das estrofes 
nas entrelinhas da carne 
do verbo conjugado, 
estranhos sinais
a redençao dos marcados 
sem juízos finais
Poderíamos dizer adeus ou mais
ter, feito deus, amor demais
Poderíamos ter dito até mais
até mais 
Os meus olhos 
não perfuram mais
os seus olhos 
nao perjuram nas
imagens devolvidas
as entrelinhas da carne
a conjunção do verbo
divino e mortal
notas melodiosas em acidentes fatais
a redençao dos negados 
por juízos finais
Poderíamos dizer adeus ou mais
ter feito, deus!, amor demais
Poderíamos ter dito até mais
até mais 
3 PARAGENSP. Ciscato
Ozias Stafuzza
Ao nascer nova luz no céu
Da explosao estelar de dois olhares febris,
Mergulhar no abismo 
do mar,
Cada dia querer mais...
De onde veio o desejo,
Por que em você
o acaso o fez?
Inexplicável sempre, como se fosse a primeira vez.
Desvelar o ardor do momento
Que em esfinges repousou.
Arriscar-se a crer que o sofrimento
Pode ser vento 
que passou...
Apalpar cegamente a paz,
Descobrir o prazer na tez dos lábios sem par.
Doce reino da surpresa,
Extase de preamar.
Tudo ter mais sentido 
aos olhos distraídos...
Um canto enfeitiçando quem tem medo 
de perder-se:
Labirinto, a cabeça ao avesso, 
O começo de um amor...
Reeditar cada sonho esquecido
Nas paragens do além-dor.
(Revelar um tesouro escondido 
no vestido furta-cor,
Rebuscar todo tempo perdido
Nas paragens do além-dor)
4 COLHEITA
Wellington de Faria
Ozias Stafuzza
Vim da terra, não sei semear,
Por isso me espalho 
em folhas esparsas,
em versos, retalhos
retintos de mim...
Escorrem palavras -
não chegam perto 
do que quero dizer.
Chegue mais perto prá eu dizer
que elas te colhem,
recolhem,
que me escolhem
e embalam.
Me encalho num mosaico sem fim:
Meus nervos,
coração em motim!
Colheita de cacos
em versos de cetim...
5 MINHA CIRANDA
Ozias Stafuzza
Abra a ciranda, ande, venha cá
contar histórias, se renda ao luar.
Teço cantigas boas de lembrar 
como a renda que 
se faz prá esperar... 
Veja o pescador que 
sai pro alto mar,
sem saber como 
ou quando vai voltar.
Frágil a vida, em grãos de areia, 
Bravia e mansa, canto de sereia ...
Saudade vem, vive no cais.
Quem fica só é um sol que vai...
Memória dos dias de paz.
Farol que nao alumia mais :
Beleza abandonada só prá olhar
como a saudade cresce no lugar.
Ter horizontes, nas pedras subir,
Longe a jangada desliza a sumir, 
A lua cheia nas águas nascer...
Contemplar o mar é quase te ver!
Saudade vem, o dia vai.
Quem fica só é um sol que cai...
Memória dos dias de paz.
Farol que nao alumia mais:
Beleza abandonada só prá olhar
como a saudade cresce no lugar.
Minha ciranda eu canto 
prá quem tem
saudade do amor que 
não vai se acabar .
Não sei se a onda levou, 
ou se virou um tesouro escondido 
no fundo do mar.
(Ou se partiu nas águas verdes 
com a rainha do mar.)
6 ARRIBAÇÃO
Fragmento 276
Ozias Stafuzza
Há pouco sozinho
a música, o vinho,
regavam a inspiração.
Minha ave rara chegou na aurora,
é tempo de arribação!
Pois a primavera de nós
já vinha semeada 
nos ventos de outono
- nunca mais sábados sós - ,
Prá nos aquecer ao calor de palavras 
que nao existem, poesia a ser inventada.
Sua mão na minha e onde mais se aninham
as linhas do coração.
Abre os olhos, Pandora, 
na boca já moram segredos do mundo vão.
O futuro lá fora ou dentro da gente. 
Do chão , espaço pra se conquistar,
que a vida 
passa de avião,
E tudo é desfeito 
num estalar de dedos,
num piscar de olhos o sonho 
cede a vez ao medo.
Traz tuas
coisas agora,
antes que a senhora ãncia (do tempo) 
nos tome as mãos (nos de a mão)...
Prepara, vam'bora , a espera devora
E o amor nao tem hora não 
7 RODA DE SONHOS 
Ozias Stafuzza
A noite já baixou.
Bateu o medo , ninguém quer sair.
Fechado o bar, uma ponta de dor.
O rádio não toca o que quero ouvir...
O rio que corria 
em meu peito está seco.
Tantas lutas, sambas e amores 
em seu leito
o mundo carregou...
Alguns navegam em 
redemoinhos de dinheiro
E tantos miram oásis de felicidade.
Por isso tão depressa
o violão se calou.
Peço desculpas por sofrer de ingenuidade.
Quantos planos perdidos entre arroubos de cervejas,
poemas amassados 
no abandono das mesas...
O cavaco cansado 
não quer mais chorar,
é um quadro empoeirado
na parede a enfeitar
os dias que vivi
e os que vivo a esperar
o coração em pinho cicatrizar.
Os dias que vivi 
e os que vivo a esperar
a roda de sonhos de novo sambar...
Quantos venderam o samba pra dançar em ouro e fama
E quem avistava miragens, 
ficou na saudade...
Por isso tão depressa 
o violão se calou.
Peço desculpas por sofrer de ingenuidade.
Quantos planos perdidos entre arroubos de cervejas,
poemas amassados 
no abandono das mesas...
O cavaco cansado 
não quer mais chorar,
como um quadro pendurado na parede pra lembrar
de canções que esqueci 
e outras que vou criar
quando o tempo do sonho voltar...
Em canções que bebi e outras que vou lembrar
Pois o futuro está pra vingar
E sei que o amanhã vai virar!
8 ANÔNIMOS
Ozias Stafuzza
Porque gosto do silêncio 
sou lento
um cara mudo, caramujo
vivendo em caracol
Porque gosto de Sao Paulo,
me calo sem rosto algum
Pois a imensidão nos toma 
nos soma 
nos torna do tamanho da cidade
que ve a pequenez de cada um
e empurra as pessoas 
prá que elas corram
e não morram no lugar
E não há quem socorra
a marginal
que acorda plena morta 
inquietas bordas do Tiete
e paulatinamente 
afoga os passageiros
a bordo dessa nau
cidade mercado
do pecado
capital calamidade
na idade do dinheiro
a tempo de viramos pó
Cegos que tateiam por si sós
Metrópole do padecer
Une anônimos como nós
Oráculo engolindo fiéis
Novas ilusões pra nos deter
E quem sai ileso de você ?
9 CANTIGA PARA THEMIS
Antonio Lázaro de Almeida Prado
Meu coração chegou 
Ao mundo da surpresa
E ao te ver, Princesa,
De pronto se inflamou
Eu disse ao coraçao:
- Amigo, tem cuidado,
Te sinto enamorado,
Queimando de paixão.
O tempo não passou, 
Parou naquele instante,
E nosso amor, constante, 
Ao tempo nem ligou:
Assim, és a menina
De ontem, hoje e agora,
Pois hoje é nossa hora
E amar-te é sorte e sina.
Bem sábio, o coração
É o mesmo do passado,
Por ti enamorado:
Amor, fogo e paixão...
10 MAR MORTO
Ozias Stafuzza
Não era um tempo, nem uma vez, 
Que a madrugada nos fez criminosos 
Ao tormento de ferir-se 
Com a lâmina dos sentimentos...
Nem se jogava ao ar sonhos
de atravessar o Mar, 
um amor morto,
seus mistérios, os tridentes de Netuno,
o querer uma Atlântida encontrar.
Falamos de amor 
e tantas outras dores,
Que o pálido encheu-se de cores
E conseguimos sorrir.
Bebemos licor, 
felizes como atores,
As roupas mesclando os suores
Prá não podermos partir.
E em todas nossas praças
Lembrávamos de um canto...
E tanto rum, vinhos,
Santos corpos entornando o pranto
Como em taças...
Falamos de tantos outros atores,
Criamos felicidade nas dores
Pra conseguirmos partir.
Bebemos do amor como fiéis pecadores,
As roupas cheirando licores,
A dor embriagando suas cores,
Que não pudemos sorrir... 
11 TRILHAS
Ozias Stafuzza
Não sei muita coisa sobre o Nada.
Não sei se é o Big Bang, 
o Big Crunch, o vazio,
ou um poço sem fundo.
Talvez seja tudo...
Sei que é um mundo sem fim,
(mas não o fim do mundo)
Onde inicio um segundo 
e me findo no Sim.
O oco, o pouco que resta,
os tocos da floresta,
um porto que se afasta...
Um louco que se arrisca
e abandona a festa.
O trem já se foi,
Velhos trilhos já não brilham em minhas trilhas.
A minha recusa em te acompanhar,
não entenda
como quem cansa de tentar 
virar a história,
ou quem ousa 
separar-se sem alarde.
Aprendo
com o velho sol que se vai 
velando a tarde
pra despertar parindo um outro dia
e é mais uma luz no mundo... 
12 O CONDE 
Ozias Stafuzza 
Minhas presas
se acham escondidas
Somente crescem
quando minha presa
já se encontra indefesa 
Minha princesa
se acha escondida
Somente se encontra
quando indefesas
já crescem minha presas
13 QUESTÃO DE TEMPO
Ozias Stafuzza 
Nascer 
viver 
morrer
o amor a aurora o agora
Que vá 
ou chegue o momento
entender nada tudo 
o que houve
é uma questão de tempo 
O tempo tem tempo
de botar alegrias prá fora
de enxotar dores prá dentro
de pôr pedras sobre
de orientar-nos por horas
tornar os passos lentos
A gente a fruta 
verde tenra 
madura podre
O tempo ter do cabelo crescer 
cair 
embranquecer
refrescar a memória
relegar ao esquecimento
chocar o ovo o novo
uma questão de tempo
Um só jeito 
qualquer maneira
fechar as janelas de vez
entrar em coma a semana
e sair só sexta-feira
sem marcas da palidez 
e nao marcar bobeira
O que fazemos com (o) tempo
O que é feito da gente
(do que penso sinto e 
pinto com as cores do meu pensamento)?
Se nao há tempo
há o envelhecimento
o embelezamento
Se temo o tempo
se não temos tempo tempo
Tempo - Abstração de vida
espaço e movimento
14 ANDRÓIDE EM ANDRAJOSOzias Stafuzza
Andar démodé
andar porque metade
Andar de bonde em 
andrajos da modernidade
Andar démodé
Andar porque metade
Andar de bonde de modernidade
De doidromedário 
Andar de andróide 
de Andrade
de CarlOswaldMário 
Andar démodé 
andar porque metade
Andar de bonde 
em andrajos da modernidade
De doidromedário
Andar de Andrade, andar de andróide
De CarlOswaldMário
Andar (andar) démodé (démodé) 
Andar porque metade
Andar de bonde (em andrajos) de modernidade
De doidromedário
(de doidromedário)
Andar de Andróide (de Andrade)
De Andrade (de Andróide)
De CarlOswaldMário
15 BIZARRO
Ozias Stafuzza
“Eu vejo pessoas vivas!”
Fim da temporada de caça, 
As raposas se acasalam. 
O mundo é dos espertos, 
mas eles também caem 
e se ralam ou se calam.
Das rosas, carniças, mares, missas, lares, odores de dores exalam. 
E o que era estranho 
e bizarro 
É o natural que cresce e se espalha, não falha... 
Brazilian people like to fight and scream goal, goal! 
They live waiting for 
a leader that will lead them to a dreamed hole and they fall… 
Some american actresses 
just love to say 
Oh! , Joe! (I love you ,baby)
So many money spent
on foolishness to turn you into a Shemp, Larry, Curly, Joe (or) Moe!
16 MÚSICA IMPOPULAR BRASILEIRA ( M.I.B.)
Ozias Stafuzza
Onde eu nasci minha
música nao floresce,
Tá esquecida e nao é mais popular. 
E no lugar a anti-música, 
o produto,
sabao em pó pra lavagem cerebral.
Breganejo, bregode, 
axé quase militar,
pra empobrecer se achando tudo, federal!
Já que nao dá pra cantar 
boi ou caboclinho, 
coco, chorinho, 
maracatu, carimbó.
Sao 20 anos 
celibatário de sucesso,
nada mais a perder, 
tudo a ganhar.
Minha música nao muda, 
talvez nunca entre na moda,
abram a roda, vou cantar Música Impopular!
Men In Black, 
Música Impopular Brasileira!
Mulheres irredutivelmente batuqueiras! 
O senhor e seu feitor, 
mesmo de relho na mão, 
tremiam ouvindo o jongo, 
tambor na escuridao. 
Finde a escravidao por toda Terra!
Queremos paz, 
mas estamos prontos pra guerra!
Dizia o cabra: povo bom 
é o que mais berra!
Queremos paz, 
mas estamos prontos prá guerra!
Manda um rap!
Erguei as mãos, 
isto é um acinte!
Vou tomar de assalto teu site, 
me espalhar por teus links!
Te derrubar do salto alto 
com graça e arte (paranauê, paraná)
Capoeira é ginga e requinte , 
uma rasteira de palavras cortantes!
Música Independente Brasileira!
Com a gente nao se brinca, 
nao vai sobrar poeira,
Cecil Bem Demente 
na guerrilha musical..
O meu rappoeira
contra a burrice arrogante:
Atirá-la a lama prá voltar 
ao que era antes,
Quebrar o staff, 
jabá multinacional!
Será o fim da canção 
ou a cançao é o fim ? 
A canção do fim: o começo da explosão !
Uniterror states of America 
Santo ofício do dinheiro, 
o futuro: danação!
Idade Mídia, 
quem vai morrer de fama?
(Trevas e Celebridades... )
Quantos Brasis você vê? 
O que passa nas ruas
ou o inventado na tv?
Mano,
invoca o Brown!
Man, I'm black!
Música Impopular Brasileira ?
Malandros 
Irremediavelmente Bambas!
Desprezaram o batuque, 
expulsaram o suingue,
entregaram o ouro 
pro bando da marketagem.
Samba que não dá no couro, 
sem poesia e malandragem.
Quero um que encontre Ben 
Jobim Lyra de Chico e Joões
Mares de Paulinho, rosas de Noel, 
Cartola e Pixinguin’ 
Toquinho, Nelsons, Beth,Elza, 
Clara, Ismael , Adoniran,
Assis, Vinícius, Martinho, 
Candeia, 
Ary e outros bambambas
Morro,
Intima o Breque!
Eu não sou boi prá ficar malhado,
Nem vou pular com
um sorriso amarelo comprado!
Vou chorar minhas pitangas 
tirando uma nesse caos.
Se quiserem falar bem, 
vão falar.
Se quiserem, 
vao achar o que falar mal.
Por isso, salve Morengueira, 
Sergio Sampaio, Itamar, 
Tom Zé, 
Raul (sem esquecer Lobao, é claro) !
Eu também vou detonar!
Música Impopular Brasileira?
Musica Intencionalmente Baderneira :
Milagreiro engana o povo, 
engorda o bolso e faz a prece!
Porque quando a esmola é muita , 
o bispo e o santo enriquecem!
Ô Tonico, seu safado, 
ô seu cabra da moléstia,
Que fica com esse boné
“se nao quer dar, 
entao me empresta?”
Caboclo que nao trabalha, 
só se encosta, não é gente.
Caboclo que só se encosta
é fantasma, não é gente.
Mas quem tem o braço curto
tem que ter a costa quente.
Mano, 
Incorpora o Beque!
Extraterrestre procura 
contato com pessoas de outro mundo 
que vivem (aqui) na Terra.
Não que nao seja deste mundo, 
"este mundo nao é meu"! 
Quem tá parado é poste, 
quem se conforma já morreu! 
“Se é muito popular 
tem alguma coisa errada...”
Lugar de música
é na estrada!
Poema “As paredes”
Falo pras paredes
porque elas me dao ouvidos
Neste mundo de papel 
só vale o escrito
A vida em branco
o melhor lugar para o grito!
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